Galinhas “pastoras” ajudam a controlar infestantes

A Escola Superior Agrária do Politécnico de Coimbra (ESAC-IPC), em parceria com a BIOPROTEC – Associação Nacional dos Engenheiros de Agricultura Biológica, está a desenvolver o Projeto GMóvel, que visa substituir a aplicação de herbicidas pelo pastoreio realizado por galinhas no controlo de infestantes em vinhas, pomares e hortas em agricultura biológica.

Este projeto surge da necessidade de uma solução alternativa para o controlo de infestantes nas linhas de cultura das vinhas, pomares e entrelinhas das hortícolas, principal obstáculo apontado pelos agricultores na conversão à produção biológica.

O projeto, que se desenvolveu-se ao longo de cinco anos, ao abrigo do programa PDR2020, está agora a terminar e permite tirar várias conclusões. Segundo Alexandra Oliveira, docente da Escola Superior Agrária do Politécnico de Coimbra (ESAC-IPC) e responsável do IPC no projeto, o recurso ao pastoreio realizado por galinhas de raças autóctones mostrou-se capaz de controlar muitas das infestantes presentes nas parcelas. “Verificámos que algumas são destruídas por ação do pisoteio e do esgravatar, enquanto outras são mesmo ingeridas pelas aves, contribuindo para a satisfação das suas necessidades nutricionais”, afirma.

Para além do controlo das infestantes, os resultados sugerem que a presença das galinhas de raças autóctones contribui para uma melhoria da fertilidade do solo. “Encontrámos aumentos no teor de matéria orgânica, mais nutrientes disponíveis para as plantas, valores de pH menos ácido e uma população mais abundante de microrganismos aeróbios e bactérias fixadoras de azoto. Observaram-se ainda algumas diferenças na macrofauna do solo (nomeadamente, minhocas) em resultado do aumento de matéria orgânica. Contudo, estes benefícios dependem da boa gestão do número de aves e do tempo de permanência no campo, aspetos que são importantes serem bem geridos”, refere.

Foram usadas galinhas da raça Preta Lusitânica e Pedrês Portuguesa (raças particularmente ameaçadas de extinção) e ainda da raça Amarela. Deste modo, o projeto visou, igualmente, contribuir para a divulgação e preservação das galinhas de raças autóctones. “Foram escolhidas por serem animais bastante rústicos e cujo comportamento se adequava ao objetivo pretendido: destruir infestantes por ação do esgravatar e/ou debicar. Para além disso, a produção biológica de ovos e carne pode ser um contributo interessante para o rendimento das explorações”, explica a investigadora, recordando que a ESAC faz parte do grupo de produtores de galinhas de raças autóctones, uma vez que os três bandos existentes foram, entretanto, inscritos nos respetivos livros genealógicos, detidos pela AMIBA. Recentemente, a ESAC foi também convidada a participar no projeto Europeu, GEroNIMO, cujo objetivo é conhecer de forma mais consistente o fenótipo e a genética de algumas das raças europeias de suínos e de galinhas.

O projeto contemplou a criação de um manual técnico que permitirá aos produtores aceder a informações importantes relativamente ao maneio de galinhas de raças autóctones para controlo de infestante em culturas hortícolas, vinhas e pomares. “Essa gestão dos animais e da sua permanência em pastoreio é fundamental, de forma a garantir o bem-estar animal, não danificar as culturas e atingir os objetivos pretendidos do controlo de infestantes e melhoria do solo, benefícios com enorme interesse em agricultura biológica”, afirma Alexandra Oliveira.

Para a investigadora, a participação da ESAC-IPC no projeto insere-se numa visão integrada de conseguir fazer da agricultura uma atividade apelativa com benefícios para a sociedade. Com efeito, num projeto desta natureza, as vantagens são de ordem ambiental sustentadas em práticas adequadas do ponto de vista agronómico, zootécnico e da qualidade dos produtos, áreas de trabalho desenvolvidas pelos investigadores da ESAC-IPC.

O projeto integrou ainda os investigadores da ESAC-IPC Maria Antónia Conceição, Daniela Valente dos Santos, Rui
Ferreira, Rui Amaro, Rosa Guilherme, Luís Valério e Manuel Costa, e teve como parceiros a Agrobio – Associação Portuguesa de Agricultura Biológica, a Quinta do Montalto II – AgroInsdústria, lda, a António de Sampaio Paiva Marques da Cruz, Unipessoal, Lda., a Quinta do Montalto, Lda., Luís Manuel Gonçalves de Sousa e Maria de Fátima Praça Torres.

 

In Jornal do IPC n.º 21