Docentes da ESEC explicam a importância do jogo e do brincar na infância e na vida adulta

O Dia Internacional do Brincar que se celebra a 28 de maio vem recordar que brincar é um direito de todas as crianças consagrado na Declaração Universal dos Direitos da Criança.

Depois de vivermos momentos de incerteza, com o encerramento das escolas e dos parques infantis, as brincadeiras deixaram as paredes das casas e os recreios voltaram a vibrar com a energia das crianças. Ouvir as crianças a brincar, um “1, 2, 3, macaquinho do Chinês” é sinal de que as crianças estão a interagir, a praticar atividade física e a expressar as suas emoções.

Para Rui Mendes, docente da Escola Superior de Educação do Politécnico de Coimbra que coordenou o estudo “Portugal a Brincar- Relatório do brincar de crianças portuguesas até aos 10 anos”, elaborado em parceria com o Instituto de Apoio à Criança e a publicação “Estrelas e Ouriços”, afirma que “Brincar é, antes de mais, uma atividade verdadeiramente séria. É de tal forma séria que nós mantemos o jogo e o brincar ao longo de toda a nossa vida. Nós associamos a palavra brincar exclusivamente às crianças, inclusivamente à infância, mas na realidade o jogo da vida, das pessoas umas com as outras, baseia-se muito no brincar e no jogar em si mesmo”.

Rui Mendes, que coordena o Mestrado em Jogo e Motricidade na Infância e a Pós-Graduação em Atividade Física e Brincar na Infância na ESEC, afirma que “o Brincar tem uma componente muito relevante do ponto de vista do desenvolvimento emocional e social porque os jogos em si são, fundamentalmente em muitos casos, antecipações daquilo que é a própria vida”.

Apesar de em contexto escolar as crianças desenvolverem atividade motora e física, “as taxas de atividade motora mais intensa acontecem nos recreios, quando as crianças estão livres. É bom perceber que o recreio não é a salvação da atividade física da infância porque temos crianças no recreio que passam o tempo todo paradas. Esse é o nosso grande problema, temos estudantes do ensino superior que não conseguem saltar à corda e, nessa circunstância, o sujeito pode ser feliz sem saltar à corda, há um património do ponto de vista do alfabetismo motor que as pessoas vão perdendo se não tiverem essa oportunidade” realça o investigador.

Em muitos casos, mais tarde ou mais cedo, utilizamos o brincar como apelativo para envolver as pessoas em determinadas circunstâncias. Há férias que são organizadas por autarquias, por empresas, que têm os jogos tradicionais como motivo adicional para as pessoas se inscreverem naquelas férias, ou seja, o jogo e o brincar. Há situações em que as próprias empresas, em algumas circunstâncias, na capacitação de recursos humanos, fazem jogos para desenvolverem o espírito de equipa. Não deixa de ser curioso que alguns treinadores de grande referência, por exemplo no campo desportivo – não estamos a brincar, não se prende com a atividade desportiva no sentido literal -, vêm mais tarde a ser contratados como excelentes promotores e bons exemplos de como liderar equipas. Na realidade o que está em causa é um jogo, neste caso com regras um pouco mais elaboradas, obedecendo a determinadas normas e leis que são específicas de determinada modalidade desportiva, mas são, desse ponto de vista, relevantes.

Brincar e aprender em limites invisíveis

Brincar ao ar livre e explorar a natureza tem sido uma realidade desenvolvida no âmbito do Projeto Limites Invisíveis, promovido pelo Consórcio constituído pela ESEC, a Universidade de Aveiro e o CASPAE – Centro de Apoio Social de Pais e Amigos da Escola, com o Apoio do Instituto de Conservação da Natureza. Na Casa da Mata, no Choupal – Coimbra, as crianças entre os 3 e os 10 anos participam em programas educativos em espaço exteriores, promovendo a sua criatividade, com benefícios ao “nível da saúde e do bem-estar das crianças, do desenvolvimento de competências socio emocionais, cognitivas e motoras, e da alteração de padrões de comportamento sedentário.”

Ana Coelho, coordenadora do Mestrado em Educação Pré-Escolar e uma das coordenadoras do Projeto, realça que “brincar na natureza é, antes de mais, uma oportunidade de a criança construir conexões significativas com esse contexto, o que naturalmente contribui para que desenvolva uma relação duradoura com o ambiente natural, que é a base da consciência e da literacia ambiental. Por outro lado, sendo o brincar uma atividade essencial para que a criança explore, entenda e construa conhecimento acerca da realidade, a natureza é um contexto particularmente interessante, pela diversidade de oportunidades de exploração e pelos desafios que oferece à criança. É neste sentido que no Projeto Limites Invisíveis a natureza é encarada como um contexto aberto à observação e interpretação da criança, em que o brincar da sua iniciativa se pode expandir em formas progressivamente complexas de conhecimento, sobre si (incluindo o conhecimento do seu próprio corpo em movimento), sobre os outros e sobre o mundo”.

 

In Jornal do IPC n.º 15