SoSValor responde a problemas da indústria com soluções sustentáveis

Projeto liderado pelo IPC produz soluções sustentáveis para a indústria agroalimentar, através da valorização de recursos naturais e resíduos industriais de origem vegetal

SOSValor é o nome do projeto liderado pelo Politécnico de Coimbra que procura dar respostas a problemas do setor agroindustrial, estudando e testando produtos naturais provenientes de plantas e resíduos industriais de origem vegetal. Este projeto visa produzir soluções sustentáveis, utilizando uma abordagem holística e promovendo uma economia circular. O projeto é desenvolvido por uma equipa de investigação multidisciplinar do Instituto Superior de Engenharia (ISEC) e da Escola Superior Agrária (ESAC), e integra também equipas de investigação do Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB) e do Centro de Apoio Tecnológico Agro-Alimentar de Castelo Branco (CATAA).

Conforme explica Marta Henriques, coordenadora do SoSValor, os recursos de origem vegetal têm despertado grande interesse numa ótica de sustentabilidade e economia circular. Estão disponíveis em grandes quantidades e podem ser provenientes de recursos naturais endógenos ou até mesmo invasores, de atividades agrícolas e dos resíduos industriais agroalimentares e da floresta. “São os compostos naturais que estes recursos incorporam o que os torna tão atrativos para exploração e valorização”, afirma a investigadora, apontando os de maior interesse: os agentes biocidas (bactericidas, fungicidas, herbicidas, nematicidas), os compostos bioativos (antioxidantes, anticancerígenos), os corantes, os conservantes, os aromas e as fragrâncias. “As indústrias dos setores agrícola, agroindustrial, florestal, têxtil e alimentar procuram respostas efetivas para dois problemas prementes e que podem garantir a sua sustentabilidade e competitividade: por um lado encontrar alternativas naturais e economicamente viáveis aos produtos químicos que atualmente utilizam. Por outro, soluções para os resíduos e subprodutos gerados pela sua atividade”, explica.

Para dar resposta a estes problemas, a equipa do projeto desenvolveu duas linhas de ação complementares. No primeiro caso, foram explorados vários grupos de plantas de acordo com as suas propriedades intrínsecas: Plantas halófitas (Salicórnia); Plantas tintureiras (Erva-tintureira); Plantas invasoras (Mimosa, Árvore-do-incenso e Acácia-negra); e Plantas aromáticas e medicinais (Tomilho bela-luz e Tomilho vulgar, Oregão e Erva-Príncipe), e foram testados os seus compostos mais promissores em aplicações concretas como matrizes alimentares, têxteis, cosméticos e pragas agrícolas. Na segunda linha de ação, procedeu-se à valorização dos Resíduos da Indústria Agroalimentar (Medronheiro, Cebola-roxa, Fava, Romã, Arroz, Castanha, Videira, Noz-pecã e Milho) e dos Resíduos da Indústria Corticeira (Pó de cortiça).

A salicórnia foi alvo de teste para a produção de bolachas mais saudáveis

A salicórnia foi alvo de teste para a produção de bolachas mais saudáveis

Na sequência dos resultados alcançados, foram realizadas com sucesso diversas provas de conceito. Duas delas em ambiente industrial em empresas do setor alimentar, nomeadamente a DanCake Portugal SA e a Irmãos Monteiro SA, com a produção de bolachas mais saudáveis com salicórnia e a aplicação de revestimentos com extratos de orégão em Alheiras e Paínhos para prolongar o seu tempo de prateleira. No CATAA, decorreu o estudo da aplicação de revestimentos comestíveis em queijos DOP de Castelo Branco. À escala piloto, nas Oficinas Tecnológicas na ESAC desenvolveu-se um método inovador de extração de sumo do bagaço de medronho e à aplicação de extratos antimicrobianos de tomilho em queijos curados, com impacto direto no aumento da segurança alimentar. Nos laboratórios do i2A, o VALOREN sediado na ESAC e o Si- SUS com instalações na ESAC e no ISEC, foi avaliado o potencial herbicida/ fertilizante da vagem de fava e do seu extrato aquoso. Com a empresa Tintex, avaliou-se a extração de corantes naturais para têxteis, e com a empresa Sercor, desenvolveu-se a tecnologia para a valorização do pó de cortiça.

Segundo Marta Henriques, em termos do impacto estratégico deste projeto, para além da contribuição efetiva na resolução de problemas concretos da sociedade, destaca-se “a sua contribuição na formação de indivíduos qualificados, com conhecimentos teóricos, competências sociais e habilidades práticas”, na medida em que envolveu estudantes de diferentes níveis e áreas de formação (Engenharia Biológica, Tecnologia Alimentar, Biotecnologia, Bioengenharia) no âmbito de unidades curriculares e de estágios do seu percurso académico.

O projeto SOSValor conta com o apoio financeiro do FEDER, através do acordo de parceria Portugal 2020 – Programa Operacional Regional do Centro (CENTRO 2020).