Debate sobre Serviços dos Ecossistemas e o impacto na gestão florestal

No passado dia 22 de março realizou-se o primeiro de um ciclo de webinares (i2A WebCycle) organizados pelo Instituto de Investigação Aplicada (i2A), destinados a abordar temas onde o IPC tem intervenção direta através das atividades de investigação e desenvolvimento das suas unidades orgânicas, e de interesse para a sociedade civil.

O primeiro evento teve como tema “Serviços dos Ecossistemas – uma nova esperança para a floresta?”. Trata-se de um tema pleno de atualidade dado ser uma das prioridades do Governo no âmbito do Programa de Transformação da Paisagem recentemente lançado (Resolução do Conselho de Ministros nº49/2020, de 24 de junho).

Para enriquecer a troca de ideias foram convidados os representantes de duas entidades com um papel fundamental a este respeito. A Florestgal-SA, empresa de gestão e desenvolvimento florestal criada pelo Governo para gerir propriedades públicas, fez uma apresentação focada nas atividades que desenvolve, com um particular destaque para a necessidade de encontrar fontes de financiamento, sobretudo através do Forest sponsoring para as parcelas sem vocação produtiva. A segunda entidade convidada foi o Forest Stewardship Council, FSC Portugal, organização dedicada à implementação de um sistema de certificação da gestão florestal. O FSC está empenhado em aplicar um sistema de certificação de fornecimento de serviços dos ecossistemas, como forma de reconhecer a gestão em prol da conservação e também como forma de encontrar patrocinadores externos que permitam financiar essa gestão.

O Webinar foi moderado pelo investigador do I2A e professor na Escola Superior Agrária, Joaquim Sande Silva. Para além do trabalho de moderação foi também feita uma introdução aos serviços dos ecossistemas e sobre as diferentes alternativas para a sua avaliação. No seguimento desta introdução foi apresentado um projeto de doutoramento com participação do I2A, sobre a avaliação dos serviços dos ecossistemas prestados em cenários alternativos de gestão florestal, fazendo um particular contraste entre a paisagem atual e um cenário de paisagem restaurada.

O Webinar contou com a participação de cerca de 60 pessoas, incluindo o presidente do IPC, Jorge Conde, e o diretor do I2A, Jorge Bernardino, os quais fizeram a apresentação do evento e o seu enquadramento institucional.

Florestgal aposta em “forest sponsoring” a pensar no futuro e no legado geracional

O Politécnico de Coimbra tem uma parceria firmada com a Florestgal, empresa pública de gestão e desenvolvimento florestal. A propósito do webinar “Serviços dos Ecossistemas – uma nova esperança para a floresta?”, conversámos com o presidente do Conselho de Administração da Florestgal, José Miguel Medeiros, para conhecer melhor a missão desta empresa e os projetos que tem em curso.

José Miguel Medeiros

Presidente CA Florestgal

 

Quais os principais objetivos /desafios para a floresta nos próximos anos?

 

Em relação aos objetivos/desafios para a Floresta nos próximos anos, direi que a visão da Florestgal passa por gerir a floresta numa perspetiva de longo prazo, numa perspetiva de legado geracional, na linha da estratégia nacional e europeia para o setor. O enfoque será orientado para o desenvolvimento de novos conceitos e novas soluções de gestão florestal, sobretudo através da Floresta Multifuncional e de Conservação, por via de uma estratégia assente no conceito de sponsorização florestal e de modelos inovadores do seu financiamento, o que proporcionará, no nosso entender, perspetivas de obtenção de receitas e créditos mais precoces e tendencialmente crescentes do que aqueles que habitualmente a exploração tradicional permite, fatores fundamentais para atingir o sucesso num negócio caracterizado pelos seus longos ciclos económicos. No fundo, florestar a pensar no futuro e no legado geracional.

 

Qual o contributo que a FLORESTGAL pode vir a dar neste âmbito?

 

Através da priorização de recursos em soluções de sequestro de carbono e proteção/conservação da biodiversidade, numa dinâmica de aumento de áreas sob exploração por aquisição, cedência ou arrendamento, por forma a ajudar à concretização dos objetivos e compromissos nacionais e internacionais em sede da ação climática e das metas estabelecidas. Aumentar a resiliência face aos riscos naturais e adensar as medidas e políticas de combate às alterações climáticas. Aliás, prevendo tudo isto, a empresa possui já uma equipa multidisciplinar e especificamente vocacionada para o desenvolvimento da área de negócio “forest sponsoring”, ou seja, na obtenção de fontes de financiamento para a instalação de povoamentos florestais de conservação, com base em modelos de exploração económica e ambientalmente viáveis, de molde a legar às gerações vindouras um território florestal bem cuidado, bem gerido, e  paisagisticamente mais próximo da natureza, portanto, mais naturalizada.

 

No âmbito da parceria FLORESTGAL /IPC quais as iniciativas que gostaria de destacar?

 

Gostaria que a parceria contemplasse um maior incremento da inovação tecnológica no setor, por exemplo, maior número de instrumentos de apoio à decisão e a uma gestão cada vez mais sustentável e rentável. Por outro lado, estando as questões ambientais na agenda do mundo, como referi, será importante uma parceria que proporcione o aumento das áreas florestadas, reconversão de áreas ardidas e de matos em floresta mais resiliente. No fundo, estabelecer modelos de gestão florestal multifuncionais e sustentáveis geracionalmente, portanto, plantar e gerir corretamente a floresta para que daqui a 30 anos se consigam ver e recolher bons resultados, num território mais justo, equilibrado e gregário, quer do ponto de vista económico e social, quer do ponto de vista ambiental, sem embargo de se olhar para a paisagem, tendo com cenário de fundo uma floresta menos intensiva e alicerçada na monocultura, tendo em atenção, naturalmente, a natureza da estrutura fundiária da floresta portuguesa; os incêndios florestais; a ausência de cadastro; a propagação de pragas e doenças, sabendo, porém, que alguns destes desafios se podem tornar oportunidades de desenvolvimento científico, tecnológico e de alta capacitação técnica.

 

In Jornal do IPC n.º14