Saúde pós-pandemia em discussão com especialistas da área

“Saúde pós-pandemia: Evolução ou Revolução?” foi o tema em discussão na conferência que o Politécnico de Coimbra promoveu no dia 6 de abril, transmitida em direto nas redes sociais da instituição. O debate refletiu sobre as perspetivas atuais do impacto que a pandemia terá no setor da saúde, abordando temáticas como a sustentabilidade do sistema de saúde, o financiamento do SNS e de que forma é que devemos (re) pensar uma segregação de competências de governação da saúde a nível nacional e dentro do contexto europeu.

Adalberto Campos Fernandes, professor na Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, defendeu a criação de um “Plano Marshall” para que seja possível recuperar a atividade assistencial que foi suspensa devido à situação pandémica. O ex-ministro da Saúde disse não ter dúvidas que “todos, a começar pelas autoridades políticas até aos colegas que estão no terreno, entenderiam que é justo que até ao final deste ano, seja criado uma espécie Plano Marshall para que as cirurgias e as consultas que estão por fazer sejam recuperadas de uma forma intensiva”.

Já Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, alertou para o impacto que a pandemia teve nos doentes não COVID. “É bastante dramático que nós saibamos que ficaram mais de 125 mil cirurgias por realizar, que mais de 1 milhão de consultas de especialidade hospitalar não tenham sido realizadas, e que, por exemplo, os rastreios oncológicos tenham estado parados durante vários meses, criando dificuldades imensas para os portugueses”, advertiu. Reconhecendo que o SNS é a grande coluna vertebral do sistema de saúde, Óscar Gaspar disse ser crucial uma maior articulação entre os sistemas. “Em complementaridade com o SNS, temos o setor privado e o social que podem também dar o seu “apport” e aumentar o nível de oferta dos cuidados de saúde”, admitiu.

Na sessão, o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) rejeitou a ideia de que o setor privado tenha estado “particularmente preocupado” com a resposta à doença não COVID-19, enquanto o SNS ficou reservado para a resposta COVID-19. “Isso é totalmente falso”, afirmou Carlos Santos. E deu o exemplo do que se passou no CHUC, onde foram mantidas “todas as respostas em cirurgia urgente e cirurgia prioritária”. O dirigente realçou que, se houve uma lição a retirar da pandemia, foi “o progressivo combate à cultura de silo que foi possível nos últimos meses e que faz convergir agendas que tipicamente não dialogam muito entre elas”.

Já Jorge Conde, presidente do IPC, disse que apesar de haver escassez de recursos humanos na área da saúde, a verdade é que os profissionais são bons, com boa capacidade de reação e de adaptação. “Falta, na minha opinião, juntar alguma capacidade de resiliência ao sistema e ela pode vir da formação ou das entidades quem formam. Por exemplo, o sistema de ensino desperdiça milhares ao erário público para fazer prática simulada quando podia, em algumas áreas, dar um aumento da oferta, retirando doentes do circuito hospitalar,” notou.

 

In Jornal do IPC n.º 14