Mulheres ainda estão pouco representadas no mundo das tecnologias

Ao contrário do que seria expectável, a percentagem de mulheres a trabalhar em tecnologia tem diminuído nos últimos anos. Isabel Pedrosa, docente de Tecnologias de Informação na CBS | ISCAC e embaixadora She Leads Tech do ISACA Lisbon Chapter (programa para a igualdade de género em profissões de tecnologia), refere que tendência é que decresça, já que na União Europeia a percentagem de mulheres em cursos superiores relacionados com Ciências e Tecnologias da Informação é de 16,7%, sendo que esse número já foi superior a 20%. Segundo a investigadora, o Parlamento Europeu aprovou, em janeiro de 2021, a estratégia para a igualdade de género para o período 2020-2025, onde destaca a relevância das mulheres estarem mais representadas nos empregos relacionados com tecnologias. “Espero que esta estratégia contrarie a minha opinião atual e contribua para que estes números melhorem durante e após este horizonte de vigência desta estratégia, atendendo às diversas iniciativas e grupos de trabalho em funcionamento para promover a atratividade das profissões relacionadas com tecnologias junto das jovens”, refere Isabel Pedrosa, destacando iniciativas como “Engenheiras por um dia”, “Women in Tech”, “Girls in ICT”, “She Leads Tech”. A investigadora aponta ainda o dedo à falta de “role models” de mulheres bem-sucedidas na área de Tecnologias nos media. A perceção generalizada das profissões ligadas às tecnologias como sendo menos aliciante (ou mal paga ou com muito esforço envolvido) e a influência das famílias dos estudantes na escolha no momento do acesso ao ensino superior e opções profissionais são fatores que também contribuem para esta situação.

A propósito da recente campanha do mês da Cibersegurança, que aconteceu em outubro passado, a investigadora nota que o baixo número de mulheres nas TIC reflete-se, também e na mesma medida, na área da cibersegurança. Ainda assim, segundo a mesma, há algumas iniciativas para contrariar os números, nomeadamente a Campanha do Centro Nacional de Cibersegurança: “You can’t be what you can’t see/ Não podes ser o que não vês”, que dá destaque a mulheres com papéis relevantes na área, iniciativas de mentoria e de estágios desenvolvidas pelas Women in Cyber (em Portugal, associadas ao BNP Paribas), entre outras. Isabel Pedrosa considera que a forma de melhorar os números das mulheres em Cibersegurança passa por “desenvolver campanhas orientadas para os alunos dos primeiros anos da licenciatura, de forma a atrair mulheres para a especialização em Cibersegurança, uma vez que esta não existe ao nível de Licenciatura, mas sim de Mestrado e Pós-Graduação”.

Isabel Pedrosa deixa algumas sugestões de modelos para as jovens se inspirarem e motivarem a abraçar uma carreira no mundo da tecnologia: fazer uma pesquisa sobre “Daniela Braga” + “Joe Biden” e ler o que esta portuguesa de pouco mais de 40 anos tem alcançado e o valor que atingiu a sua empresa – a “DefinedCrowd”; filmes como “Elementos Secretos” (3 matemáticas negras que fizeram história na NASA – Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson), “A Rede” (roubo de identidade, protagonizado por Sandra Bullock), “O Jogo da Imitação” (Joan Clarke), ou o “CSI Cyber” (Patricia Arquette como Diretora de uma unidade Cyber); livros para as meninas “101 mulheres que mudaram o mundo” e “101 mulheres que mudaram a ciência” e para as jovens “Mulheres invisíveis: como os dados configuram um mundo feito para os homens” (de Caroline Criado Perez), ”A economia XX – o épico potencial das mulheres” (de Linda Scott) e “As mulheres na história do mundo: de 1450 até ao presente (de Bonnie G. Smith).

 

Jornal do IPC n.º 20