A normalidade “possível” das aulas à distância
Comunidade educativa adapta-se às atividades letivas online
Desde o dia 13 de março que as atividades letivas presenciais foram suspensas no Politécnico de Coimbra (IPC) e que a comunidade teve de se adaptar a uma nova realidade: aulas à distância. As aulas que podem ser lecionadas em formato digital estão a ser concretizadas, contando com o esforço acrescido dos docentes que têm feito tudo o que está ao seu alcance para que os estudantes que estão em casa continuem a realizar a sua formação, com exceção de algumas aulas práticas e estágios.
Recentemente, foi decidida a ausência de atividades presenciais até 15 de junho, no que se refere a aulas e outras atividades letivas, podendo haver lugar a exceções, nomeadamente ao nível dos estágios, que, em alguns casos, poderão ter condições para se reiniciar antes, situação a determinar por cada unidade orgânica de ensino.
Segundo o presidente do Politécnico de Coimbra, Jorge Conde, perante a “excecionalidade” da atual conjuntura e sendo “a principal missão de uma instituição de ensino superior o ensino e a sua aprendizagem, urge proporcionar as condições possíveis, ainda que com caráter excecional e transitório, mesmo quando não seja possível assegurar a normal presença física”. Assim, foram decididas novas normas regulamentares no âmbito do ensino-aprendizagem ao nível dos pagamentos de taxas e emolumentos dos exames e nos prazos de entrega nos mestrados para “dar resposta a estes desafios e minimizar os impactos negativos junto dos estudantes”.
Da parte dos alunos, o balanço do funcionamento das aulas parece ser positivo, dando nota positiva à disponibilidade dos professores e à capacidade de adaptação por parte de todos os envolvidos e nota negativa às dificuldades sentidas por alguns ao nível tecnológico.
João Duarte, aluno do 2.º ano da Licenciatura em Gestão da ESTGOH, afirma que a adaptação “tem sido positiva”, apesar de alguma “inércia habitual” e o facto de que “nem todos os alunos têm as mesmas possibilidades e facilidades de acesso ao sistema”. Não obstante, reconhece que dado o tempo que houve para se chegar a esta solução, “o sistema é bastante produtivo”, os alunos “mostram-se bastante recetivos à ideia e, aliás, até tem havido maior assiduidade às aulas, com o novo formato”, havendo ainda “tendência a melhorar” com o passar das aulas. Como aspeto negativo, aponta a desigualdade que existe perante os alunos mais desfavorecidos e o facto de nem todos terem total acesso ao serviço, problema que a escola está a tentar ultrapassar.
Mafalda Duarte, estudante do 2º ano de Farmácia da ESTeSC, realça que todos os docentes “se encontram sempre presentes para nos ajudar e tentar que a nossa aprendizagem ocorra da melhor forma possível” e que tem conseguido realizar algumas aulas práticas, estando as restantes suspensas. Elogia ainda o aumento da proximidade entre aluno/ professor e “uma maior adesão por parte dos alunos a frequentar as aulas”. Como ponto negativo, indica a facilidade em “distrairmo-nos com alguns fatores externos, que acabam por quebrar a atenção em relação àquilo que está a ser falado na aula”.
Sara Ferreira, aluna do 1º ano do CTeSP em Qualidade Alimentar na ESAC, também dá nota positiva às aulas online e à disponibilidade dos docentes, contando que “as estratégias de ensino que estão a ser implementadas passam pela disponibilização antecipada dos conteúdos das aulas, apontamentos, ficheiros de apoio ao estudo, assim como as aulas por videoconferência”. Já no caso das aulas práticas, as soluções alternativas encontradas pelos professores variam em função da unidade curricular e do docente. Sara Ferreira também aponta como negativo o facto de que “nem todos os alunos têm recursos para poder ter uma adaptação mais facilitada e muitas vezes ocorrem falhas de ligação, o que acaba por impedir a sua intervenção nas aulas”.
Se os alunos elogiam a forma como os docentes encontraram soluções para esta nova realidade, estes também reconhecem a relativa rapidez com que o processo de adaptação se desenrolou.

Elisabete Neves, docente do ISCAC e presidente do Conselho Pedagógico daquele estabelecimento, realça a resposta rápida da comunidade: “A adaptação foi extremamente rápida, para a maioria dos docentes e respetivos alunos. Dois dias após a suspensão das aulas presenciais foram tomadas medidas para que os docentes interagissem com os seus alunos e que começassem a dar aulas online, via videoconferência, ou utilizando os mecanismos do nónio, nomeadamente o fórum de discussão”, recorda.
Segundo a docente, “o importante é que os conteúdos sejam assegurados na medida do possível e os objetivos gerais das unidades curriculares sejam cumpridos”. Como nota negativa, aponta a dificuldade de apreensão rápida de algumas matérias por parte dos estudantes e a obrigatoriedade de estudo autónomo para acompanhamento das matérias. Também Ana Veloso, docente do Departamento de Engenharia Química e Biológica do ISEC, sublinha o processo de adaptação: “Não tinha experiência na utilização de plataformas de ensino à distância”, acrescentando que esta nova realidade, anteriormente impensável, tem implicado “uma adaptação constante para tentar melhorar a forma como chego aos alunos”. Considera a lecionação à distância “bastante gratificante” e realça “o empenho de grande parte dos alunos, a sua tenacidade e vontade de ultrapassar as limitações impostas por este tipo de ensino”. Estas limitações são, refere, a impossibilidade de realizar trabalhos experimentais e de “sentir” se os alunos estão a entender a mensagem que está a transmitir quando não ligam as câmaras. Para esta docente, os alunos têm sido, de um modo geral, mais assíduos e pontuais, tendo a sua participação durante e após as sessões aumentado gradualmente.
Por sua vez, Rui Paulo Simões, diretor do Curso de Estudos Musicais Aplicados da ESEC, tem enfrentado os desafios de ensinar música à distância, que colocou “à prova a criatividade e engenho” dos docentes do curso. Para além do recurso à videoconferência, alguns docentes socorreram-se de ferramentas informáticas dedicadas, particularmente úteis no caso da cultura e treino auditivo, e na componente da tecnologia do plano de estudos. Nesta forma de ensinar elogia a “criatividade e flexibilidade dos estudantes”, à qual contrapõe a inviabilidade de “uma dinâmica só possível no ensino presencial, onde a interação, o acompanhamento e a reação imediata ao gesto, ao som, ao desempenho performativo são claramente mais rápidas e eficazes”.
Testemunhos
A resposta dos alunos foi a melhor
João Noronha
Presidente da ESAC

Na Escola Superior Agrária de Coimbra, a mudança do ensino presencial para o ensino à distância foi feita da pior maneira possível. De um dia para o outro e sem qualquer preparação. Tinha todas as hipóteses de correr mal. Mas parece que está a correr bem.
Sem hipóteses de se organizarem ações de formação ou tempo para se testarem as novas metodologias, foi dada a liberdade a cada professor para se “desenrascar” o melhor possível e cada um fez o seu melhor. Uns começaram logo a utilizar os sistemas de vídeo aulas que encontravam na internet, outros utilizaram a plataforma nónio, alguns começaram por só utilizar o correio eletrónico. Cada um na sua casa foi tentando dar as suas aulas da melhor maneira possível.
Houve, e ainda há, muitas dúvidas, alguma insegurança. De um modo descentralizado e anárquico (no bom sentido do termo) trocam-se experiências com outros colegas e com os alunos (à distância), vão-se acertando as agulhas e a coisa parece que vai andando.
A resposta dos alunos foi a melhor. Os alunos compreendem as dificuldades, colaboram, ajudam os professores na procura de soluções. A associação de Estudantes promoveu e divulgou um inquérito aos alunos que ajudou a perceber e a corrigir o que estava a correr menos bem.
Resta fazer o balanço. Mas só mais daqui a uns meses, que a coisa ainda está longe de acabar.
Tivemos uma extraordinária capacidade de reagir
Rui Antunes
Presidente da ESEC

Soubemos responder de forma rápida e eficiente aos imensos desafios que esta situação nos trouxe e quando tudo parecia que ia correr mal tivemos arte e engenho para “dar a volta por cima”.
Tivemos uma extraordinária capacidade de reagir, de nos adaptarmos e de funcionarmos como comunidade unida; vencemos – alunos e professores – a inércia e o “receio” que nos inibia de avançar e de experimentar novos caminhos que a tecnologia abriu; verificámos que é possível que algumas aulas possam vir a ser feitas em ensino a distância e com ganhos de qualidade; constatámos que é muito mais prático fazer reuniões por videoconferência e que muita da atividade administrativa pode ser feita em teletrabalho.
Teremos agora de conseguir que estas conclusões se traduzam na nossa forma de trabalhar. E refiro-me à qualidade da nossa experiência profissional e cívica – enquanto docentes, estudantes ou não docentes –, e não a “aproveitar a oportunidade” para nos porem a trabalhar ainda mais e mais pressionados.
Como nos mostram as estatísticas, nós precisamos é de aumentar a qualidade e não a quantidade do trabalho. Esperemos esta seja uma das boas consequências desta experiência.
O desafio da aprendizagem à distância para um novo tempo
Carlos Veiga
Presidente da ESTGOH

Tendo em consideração todos os desafios que se colocam à nossa sociedade no momento que atravessamos, a suspensão das atividades letivas presenciais constituiu o maior desafio que já foi colocado ao corpo docente e técnico da ESTGOH.
Se é dado como adquirido que, mesmo em situação excecional, é imperativo salvaguardar o cumprimento dos objetivos de aprendizagem, não é menos verdade que para que seja possível é necessário construir praticamente “do zero”, um sistema eficaz adequado a circunstâncias completamente novas e que permita terminar o semestre letivo.
Sem preparação prévia e perante o compromisso que temos com a comunidade, a transição para o ensino não presencial na ESTGOH foi implementada com base em três vetores: estabilidade; cooperação; adaptação. Todos sabemos que o desafio é grande, e possivelmente por isso mesmo verificamos que temos uma comunidade enorme e capaz de construir a solução para esse desafio, assim seja possível entendermos (todos) que será o maior momento de aprendizagem das nossas vidas e que, se soubermos interpretar bem este tempo e estas circunstâncias seremos capazes de nos transformar em melhores profissionais, melhores estudantes, ou seja em melhores pessoas.
Ensino em tempo de Pandemia e a capacidade de adaptação
João José Joaquim
Presidente da ESTeSC

No final de fevereiro a Presidência iniciou a estruturação de um Plano de Contingência (PdC) para o SARS CoV-2 percebendo a rápida transmissão na comunidade.
No início de março, para operacionalizar e monitorizar a implementação do PdC foi criada uma Comissão para acompanhar a evolução epidemiológica da COVID-19, com dados nacionais/internacionais e recomendações das Autoridades competentes.
Simultaneamente delineou-se a estratégia João José Joaquim Presidente da ESTeSC que preparou a transição para um modelo de ensino não presencial. A ESTeSC organizou-se, envolvendo os diferentes actores, para que a transição ocorresse com tranquilidade. Decorridas três semanas é possível fazer um balanço muito positivo, da forma comprometida com que o corpo docente e discente assumiu o desafio. As matrizes práticas e de estágio estão suspensas.
A ESTeSC funciona num registo remoto, de resposta ao quotidiano, com o empenho dos seus funcionários não docentes. Actualmente está a ser analisado o feedback, recolhido junto do corpo docente e discente, para melhorar os aspectos relacionados com as aulas e o constrangimento de meios tecnológicos que possam limitar o pleno acesso às mesmas.
Aulas e conteúdos nos prazos previstos
Pedro Costa
Presidente do ISCAC

Na semana em que suspendeu as aulas presenciais a Coimbra Business School transferiu o seu ensino para as plataformas digitais. As aulas continuaram a decorrer com recurso a sistemas de colaboração web, com transmissões de vídeo em direto, edição e publicação de aulas gravadas e sistemas de partilha de ficheiros. Apenas três dias depois da suspensão das aulas, no dia 13 de março, o jornal As Beiras transmitiu, em direto, via Facebook, uma professora a lecionar a partir de sua casa e a interagir com os seus alunos. Neste momento, a Coimbra Business School tem 504 turmas, com 100% das suas aulas à distância. Os estudantes de todos os cursos conferentes de grau – licenciaturas e mestrados – estão a ter a totalidade das aulas nas plataformas digitais, tal como está a ocorrer nos MBA’s e nas pós-graduações. São mais de 3.500 alunos e de 500 docentes e investigadores envolvidos neste processo.
Os melhoramentos permanentes fazem parte desta digitalização forçada e acelerada do nosso ensino, mas o que é importante é que os alunos estão a ter – com qualidade – as aulas previstas, com os conteúdos previstos, nos prazos previstos! Os constrangimentos do presente podem ser oportunidades para o futuro.
Oportunidades para o futuro
Sílvino Capitão
Presidente do CTC do ISEC

A recente situação de contingência decorrente da crise COVID-19 exigiu que, subitamente, todo o ensino superior se adaptasse a metodologias de ensino- -aprendizagem à distância.
Tratando-se de uma mudança disruptiva, todos os dias exige que encontremos formas de manter condições de funcionamento satisfatórias. Enquanto presidente do conselho técnico-científico do ISEC surpreendeu-me a forma como nesta unidade orgânica do IPC tantos, em tão pouco tempo, se adaptaram à lecionação à distância.
Não tenho dúvidas de que isso foi possível pela atitude particularmente proativa dos envolvidos: horas de webinars, de testes, de procura de informação, de discussão, de partilha de experiências.
A mitigação dos impactes da crise no funcionamento da escola tem sido alcançada também pela participação empenhada, e frequente, dos órgãos de gestão do ISEC no apoio à definição das orientações de funcionamento já implementadas. De uma forma geral, e com o esforço de todos os envolvidos, o ISEC tem assegurado condições de ensino e aprendizagem consentâneas com o período de contingência. A experiência do caminho percorrido até agora tem-nos revelado oportunidades para o futuro pós-COVID-19, ao mesmo tempo que nos lança novos desafios que, estou convicto, venceremos, com engenho e arte, designadamente a diversificação de metodologias de avaliação e a sua validação, e a capacitação dos estudantes com competências práticas específicas.