Investigadores ajudam a desenvolver vinho espumante biológico mais sustentável

Investigadores do Politécnico de Coimbra ajudaram a desenvolver um vinho espumante biológico com menos enxofre e, assim, mais sustentável em termos ambientais. O trabalho desenvolveu-se no âmbito do projeto EspumaBio – Vinificação de Espumantes em Produção Biológica, que terminou em novembro passado, e que teve como objetivo o incremento da produção, economicamente viável, de vinhos espumantes biológicos, contribuindo para a sustentabilidade ambiental e a biodiversidade.

Integrando uma parceria com diversos agricultores da zona Centro e associações de âmbito nacional (BIOPTROTEC e AGROBIO), a Escola Superior Agrária do Politécnico de Coimbra (ESAC-IPC) desenvolveu, ao longo de quatro anos, um conjunto de tarefas de monitorização e controlo nas diferentes fases de produção, desde a produção das uvas até ao engarrafamento e tecnologia de obtenção do espumante, contribuindo com sugestões e indicações técnicas determinantes para a prossecução dos objetivos inicialmente definidos.

A equipa da ESAC-IPC empenhada neste projeto foi composta pelos docentes Rui Amaro (coordenador), Daniela Santos, Goreti Botelho e Maria José Cunha, e pelos técnicos superiores Rosinda Leonor Pato, Sandra Santos e Rosa Guilherme.

Para Rui Amaro, a participação neste projeto vai ao encontro dos objetivos da ESAC enquanto instituição de ensino superior, no que diz respeito ao apoio à comunidade e à contribuição, através da experimentação, da inovação e da transferência do conhecimento para, neste caso concreto, se adotarem as melhores práticas culturais na cultura da vinha e, paralelamente, contribuir para aumentar a qualidade dos produtos da nossa agricultura. Neste caso concreto, contribuir para a resolução de um problema relacionado com a necessidade de reduzir o teor de sulfuroso em vinhos espumantes obtidos em agricultura biológica.

“É, de facto, muito gratificante poder dar o nosso contributo junto de quem trabalha a terra e, neste caso, se dedica a um modo de produção em franca expansão como é o caso da agricultura biológica em que, para além dos problemas ambientais e da melhoria da fertilidade dos solos, são centrais as preocupações na obtenção de produtos de qualidade superior que garantam a saúde dos consumidores”, considera o investigador e também vice-presidente da ESAC, manifestando a sua satisfação com os resultados obtidos. “Quando uma instituição de ensino superior é procurada pela comunidade para colaborar na resolução de problemas concretos, e consegue fazê-lo de forma construtiva e com sucesso, significa a assertividade da sua ação e o reconhecimento da qualidade das formações que ministra”, diz, acrescentando que, em particular, poder fazê-lo na área da agricultura biológica “enche-nos de orgulho e dá-nos a razão de estarmos no rumo certo”.

 

Redução em 50% dos compostos sulfurosos nos vinhos

 

Os parceiros deste Grupo Operacional – Espumabio – procuraram a resolução do problema da concentração em excesso de enxofre nos vinhos, para os consumidores. Com efeito, os vinicultores nacionais de espumantes biológicos, cumprindo com as quantidades autorizadas pelo Reg. Exec. (UE) nº203/2012, de 8 de março, produzem e estagiam os seus vinhos com recurso ao anidrido sulfuroso em quantidades inferiores ao que se utiliza para os espumantes convencionais, manifestando até agora grande resistência a uma maior redução dessas doses aplicadas por temerem, fundamentalmente, problemas na fermentação e na posterior conservação do vinho.

Havendo vantagens para a saúde de todos os consumidores em fazer baixar ainda mais as quantidades de enxofre utilizadas em todo o processo produtivo, o trabalho consistiu em fazer a produção do Espumante Biológico, primeiro, com utilização escrupulosa e muito precisa de enxofre como fungicida na produção das uvas e, depois, com a adição de mosto fresco, ou de mosto amuado pelo frio, em substituição do tradicional açúcar de cana. Pretendeu-se, por um lado, contribuir para o aumento da fertilidade do solo no sentido lato, através da melhoria das suas componentes física, química e biológica e, essencialmente, reduzir a quantidade de compostos sulfurosos no produto final.

O resultado foi um Espumante Biológico de qualidade, produzido com uso de menores quantidades de enxofre como fungicida e que, no processo de vinificação, nomeadamente da segunda fermentação porque se utilizou exclusivamente o mosto, sem qualquer adição de açúcar de cana, se adicionou apenas metade da dose do sulfuroso autorizada.

Segundo a equipa, este projeto tem um caráter inovador ao permitir a obtenção de um espumante biológico ainda mais saudável, produzido exclusivamente com adição de mosto de uva no processo fermentativo e que minimiza os problemas causados pelo consumo de dióxido de enxofre (potencialmente muito perigoso para o grupo das pessoas que sofrem de asma) ao reduzir em, pelo menos, 50% a quantidade de sulfuroso aplicado nos vinhos espumantes biológicos. Ao mesmo tempo, o conjunto de práticas que foram adotadas têm um caráter preventivo, integrador e sustentável, especialmente pela redução dos teores de enxofre utilizado e melhoria do estado nutricional das plantas como consequência direta da maior fertilidade dos solos.

Durante o projeto foi realizado um Manual de Produção do Vinho Espumante Biológico e foram sensibilizados os produtores nacionais, sobretudo através de ações de divulgação digital e de publicações técnicas.

O i2A – Instituto de Investigação Aplicada foi responsável pela execução financeira do projeto.

 

in Jornal do IPC n.º 22