Programas de mobilidade condicionados pela pandemia

Os programas de mobilidade internacional dirigidos a estudantes assistiram a um decréscimo considerável no número de participantes face à pandemia. Segundo Maria João Cardoso, pró-presidente para a área das Relações Internacionais do Politécnico de Coimbra, este impacto negativo é generalizado na Europa e abrange todas as instituições de ensino superior, que tinham alcançado na última década níveis muito elevados de mobilidade internacional graças ao programa Erasmus.

Atualmente o Politécnico de Coimbra, no 1º semestre, assiste a uma redução de cerca de 85% na mobilidade outgoing dos estudantes do IPC e a um decréscimo de 70% no número de estudantes estrangeiros que recebe em mobilidade incoming.

No que se refere aos estudantes incoming, são 80 os estudantes provenientes de outras Instituições de Ensino Superior (IES) estrangeiras que estão a estudar no IPC, com predominância para o ISEC, sendo a maioria de nacionalidade espanhola.

Para o primeiro semestre deste ano letivo que agora inicia foram elaboradas recomendações que diferem em função das condições logísticas de cada escola. Assim, nas escolas com maior densidade de comunidade escolar e, portanto, maior dificuldade no distanciamento social, como a ESEC e o ISCAC, ou pela área específica da saúde, como a ESTeSC, a recomendação foi a de, sempre que possível, adiar as mobilidades para o segundo semestre. Nos casos de escolas com menos constrangimentos de espaço, como o ISEC e ESAC, sublinharam-se os condicionalismos e implicações da pandemia no período de mobilidade sem propor o adiamento. “O que é importante é que nenhuma das escolas do IPC suspendeu as mobilidades como aconteceu em muitos dos nossos parceiros europeus”, afirma Maria João Cardoso.

Neste ano letivo 20/21 as aulas decorrem em modelos mistos, presencial e online, também adaptados às várias realidades das escolas e, naturalmente, os estudantes em mobilidade integram-se no modelo de funcionamento da respetiva escola. Em todas as escolas existe um gabinete de relações internacionais com, pelo menos, um técnico superior e um docente responsável, que promovem e asseguram o acompanhamento de proximidade a todos os estudantes envolvidos em mobilidades internacionais.

No caso dos estudantes outgoing, o IPC tem 33 estudantes a estudar em IES estrangeiras, tendo-se registado no início do ano cerca de 400 candidaturas para o 1º semestre do ano letivo 20/21.

Para além das recomendações específicas que foram dirigidas a todos os que se candidataram a mobilidade outgoing pelas várias escolas, em termos formais foi incluído no contrato Erasmus um anexo relativo aos riscos da pandemia e recomendado que os estudantes se registem na aplicação do Ministério dos Negócios Estrangeiros designada “Registo Viajante”.

É ainda disponilizado um número de whatsapp de contacto e que se mostrou muito útil na emergência do regresso em março.

As candidaturas para realizar programas de mobilidade no ano letivo 2021-22 vão abrir durante o primeiro trimestre de 2021. Prevê-se que nesta altura estas possam ser feitas na plataforma NÓNIO, através do site inforestudante.ipc.pt.

 

TESTEMUNHOS ESTUDANTES ERASMUS+

Estudantes Outgoing

Neste contexto de pandemia mundial, porque decidiu fazer uma mobilidade e como está a ser a experiência no país escolhido?

 

DIOGO FILIPE SOARES (ESAC) em mobilidade na Polónia

Realizar uma mobilidade Erasmus é um desafio, ainda mais vindo para um país como a Polónia onde o clima é ligeiramente mais frio e onde 90% das pessoas não sabe falar Inglês. Este tem sido o principal desafio a par da situação do vírus.

A decisão de vir foi fácil de ser tomada, mesmo em plena pandemia. Porquê? Porque o risco que eu teria em contrair o vírus ficando em Portugal seria quase o mesmo a vir para a Polónia, por isso, a questão da COVID-19 não poderia ser colocada como uma barreira à não realização da mobilidade. É claro que ao início fiquei assustado pelo facto de estar numa residência onde tenho de partilhar cozinha, casa de banho e espaços comuns como os corredores. No entanto, o uso de máscara é obrigatório (apenas a tiro quando estou dentro do quarto), todos os espaços são devidamente desinfetados e, inclusive, somos obrigados a desinfetar as mãos quando entramos na residência.

É claro que sabia o risco de ter aulas online, o risco de não poder voltar para casa na altura em que terminasse as aulas, o risco de não poder visitar a família e amigos no Natal mas isso tudo são coisas que na altura em que vivemos eu teria de estar preparado emocionalmente caso acontecessem.

Quanto à experiência em si de estar num país como a Polónia tem sido desafiante – como já tinha referido anteriormente – devido à língua, porque é rara a pessoa que sabe falar inglês, é desafiante porque os estabelecimentos fecham quase todos às 20h/21h o que faz com que tenhamos um estilo de vida um pouco diferente do normal. Também devido à situação da COVID-19, não é aconselhável viajar para outros países o que também é uma pena porque iria acrescentar mais momentos incríveis a esta experiência.

No entanto, vir para outro país acrescenta-me valores como aluno, futuramente como profissional e como ser humano. A experiência de viver noutro país, gerir finanças, gerir as emoções de estar longe da família e ver-me pela primeira vez a tomar controlo máximo da minha vida foram o que me levou a dizer “Sim, eu vou”.

 

PRISCILLA ESTRELA (ISCAC) em mobilidade em Itália

Como aluna do último ano de mestrado, esta era minha última oportunidade de realizar Erasmus. Mesmo sendo um ano de pandemia, decidi não deixar a oportunidade passar e embarquei nessa experiência única e inesquecível rumo a Itália.

Recebi todo o suporte do ISCAC e fui muito bem acolhida pela Scuola Nuova Arcadia, em Casalbordino. Viver uma experiência como esta é uma oportunidade incrível de desenvolver competências e ser uma profissional cada vez mais global. Além de ser uma imersão na língua e cultura, e ter no currículo mais esta experiência!

Aconselho a todos que tenham a oportunidade, que façam uma mobilidade Erasmus!

 

 

 

JOSÉ ROSÁRIO (ISEC) em mobilidade na Coreia do Sul

Decidi continuar com a mobilidade porque, apesar da situação em que vivemos, a Coreia do Sul foi um país que não foi muito afetado, e que neste momento está muito mais seguro que a Europa, com cerca de 100 casos diários. Tirando a quarentena obrigatória quando cheguei, não acho que o vírus tenha afetado esta experiência. Tenho conseguido viajar pelo país com as devidas precauções e esta semana as aulas voltaram a ser presenciais tornando ainda melhor esta aventura.

 

 

 

Estudantes Incoming

Neste contexto de pandemia mundial, porque decidiu fazer uma mobilidade no Politécnico de Coimbra e como está a ser a experiência?

 

DELPHINE GLARDON

(University of Franche-Comté/França) em mobilidade no ISEC

Escolhi o Politécnico de Coimbra antes de iniciar-se a atual crise de saúde. A minha Escola em França oferece diferentes parcerias com Escolas de todo o mundo para prosseguir os estudos. Escolhi o IPC porque está situado numa bela cidade cheia de história, mas também na cidade universitária mais antiga de Portugal. Estudo Engenharia Mecânica e as aulas, tanto à distância quanto presencial, estão a correr bem. Estou feliz por estar nesta Escola onde posso estudar tópicos de que gosto muito. O mais importante é que a atual situação de saúde não impede a amizade e o bom humor entre os alunos Erasmus.

 

 

 

ANGEL MIGUEL DAVO CARO

(Universidad de Málaga/Espanha) em mobilidade na ESEC

Estamos a atravessar tempos muito difíceis, tempos que nunca imaginamos viver. Tudo isto começa tendo sido eleito e aceite pelo nosso destino Erasmus. Escolhi Portugal por ser um país muito próximo, mas ao mesmo tempo diferente e cheio de curiosidades. Por isso decidi dar o salto e não perder a oportunidade de viver a experiência Erasmus portuguesa, pois desde pequeno que gosto de viajar e de conhecer diferentes culturas.

A minha experiência, apesar das restrições impostas, tem sido muito positiva. Desde o primeiro dia em que entrei para a ESEC, parece-me uma Escola muito comprometida com o protocolo “Covid-19”. Apesar das dificuldades académicas que todo este contexto apresenta, professores e alunos estão muito empenhados em tornar este percurso cheio de adversidades mais agradável e conseguir obter uma aprendizagem de boa qualidade. Por tudo isso, fico muito grato por esta grande oportunidade.

 

In Jornal do IPC n.º 8