Volume de trabalho aumentou durante o período de confinamento social

O Serviço de Saúde Ocupacional e Ambiental do Politécnico de Coimbra (sSOA), com a colaboração de uma equipa multidisciplinar de docentes da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC), elaborou um estudo para perceber quais as condições e caraterísticas de trabalho associadas ao período de confinamento social decorrente da pandemia e quais as suas consequências na saúde dos trabalhadores docentes e não docentes da Instituição.

Segundo Lúcia Simões Costa, pró-presidente do IPC e coordenadora deste estudo, a pandemia COVID-19 “implicou um conjunto de mudanças para a vida de milhões de pessoas em todo o mundo. Os reflexos desta situação também se fizeram sentir na comunidade do Politécnico de Coimbra”, levando a que fosse colocada em confinamento social e a trabalhar a partir de casa, no mínimo, durante dois meses.

O questionário foi disponibilizado a todos os trabalhadores via email institucional solicitando a colaboração dos mesmos através do seu preenchimento. A fase de inquérito decorreu de maio a julho de 2020. De um universo de 1.156 trabalhadores, participaram no estudo sobre a Avaliação das Condições de Trabalho e de Saúde 258. A maioria dos participantes desempenhava funções docentes, tendo sido os Professores Adjuntos o grupo mais representado, e tinha contrato de trabalho em funções públicas. Dos participantes no estudo, 87,2% indicaram viver, permanentemente, com outras pessoas, em maior número com adultos, seguindo-se as que viviam com crianças, com jovens/adolescentes e, por fim, em menor número, com pessoas idosas.

Da análise dos resultados do inquérito é possível concluir que os trabalhadores inquiridos estiveram, maioritariamente, a trabalhar em casa durante o período de confinamento social, tendo a maioria registado um aumento do tempo e do ritmo de trabalho, da quantidade de trabalho e do tempo que demorou a realizar as mesmas tarefas que já realizava antes do período de confinamento.

Também foram registadas mais dificuldades na realização do trabalho, preocupação maior com o trabalho fora do horário laboral e trabalho diário a ultrapassar as sete horas.

A necessidade de tomar decisões e ter mais iniciativa foi apontada, bem como mais exigências emocionais e cognitivas e sentimento de solidão, apesar de sentirem o apoio por parte de colegas e chefias. De referir que o trabalho realizado durante o confinamento, não tendo provocado insatisfação, também não trouxe satisfação nem motivação.

Quanto às condições de saúde dos inquiridos, registou-se um aumento do consumo de tabaco e bebidas alcoólicas, a qualidade do sono diminuiu, mas os hábitos alimentares melhoraram. A saúde, em termos gerais, foi considerada boa, embora os problemas físicos não tenham diminuído e tenham aumentado as dores de costas e a fadiga. Por outro lado, registaram-se níveis elevados de stresse.

De acordo com Lúcia Simões Costa, é importante realçar que “os benefícios potenciais de um confinamento social que é imposto têm de ser ponderados com cuidado perante possíveis custos psicológicos e físicos”. “O uso, com sucesso, do confinamento e isolamento social, como medidas de saúde pública, requer cuidados e que se reduza ao máximo os efeitos negativos associados”, adverte a docente.

Outro aspeto que sai evidenciado deste estudo é relativo ao local de trabalho, onde existem situações que podem ser melhoradas, nomeadamente, a qualidade do ar interior e ventilação, e o ruído. O Serviço de Saúde Ocupacional e Ambiental do Politécnico de Coimbra terá “um papel fulcral no apuramento destas situações”, sobretudo, através da avaliação dos riscos identificados e das respetivas condições de trabalho, por forma a promover “a melhoria contínua e, consequentemente, a satisfação e bem-estar dos trabalhadores no seu local de trabalho”, conclui a responsável pelo estudo.